A MEDITAÇÃO ANTROPOSÓFICA E EXERCÍCIOS COLATERAIS
No capítulo "O conhecimento dos Mundos Superiores" de seu livro A Ciência Oculta (Editora Antroposófica, 1998), Rudolf Steiner introduziu os chamados "exercícios colaterais" (Nebenübungen) essenciais para uma atividade meditativa. Eles também podem ser encontrados no capítulo "A Senda do Conhecimento" de seu livro Teosofia (Ed. A., 1994). Segundo ele, para quem não pratica esses exercícios a meditação torna-se, na melhor das hipóteses, inefetiva, podendo mesmo chegar a ser prejudicial, como o desenvolvimento de ilusões, ficar-se incapacitado de distinguir entre verdade e erro, ou de conduzir a vida adequadamente, etc. Os exercícios devem ser feitos diariamente pelo menos durante alguns minutos, introduzindo-se-os gradualmente (por exemplo, de mês em mês) na ordem dada, e são os seguintes:
- Controle do pensamento. Trata-se de se concentrar o pensamento em algo bem simples do mundo real, podendo ser um objeto como um lápis, um alfinete, um sapato, etc. Deve-se pensar em tudo o que diz respeito ao objeto escolhido, e evitar todo o pensamento que não diga respeito direto ao mesmo. Steiner cita que se pode enfocar aspectos como quais as partes que compõem o objeto, as formas do mesmo, os materiais de que é feito, quando o objeto foi inventado, seus usos, etc., e recomenda particularmente que se faça esse exercício sobre objetos artificiais, que são fruto do pensamento humano e podem ser totalmente compreendidos. Quem pratica esse exercício percebe como nosso pensamento tem asas, querendo voar por paragens que não pretendíamos visitar. É necessário continuamente forçá-lo a voltar ao tema central escolhido.
- Controle da vontade. Trata-se de tomar uma decisão de realizar algo fisicamente, e cumpri-la. Assim, em lugar de se ser dirigido por eventos exteriores, executa-se algo por decisão exclusivamente própria. Para isso, é importante escolher uma ação que não tenha nada com a vida normal. Um bom exercício, segundo Steiner, é decidir-se executar no dia seguinte uma ação trivial; podemos citar, nesse sentido, ações como rodar um anel no dedo, ou o relógio no pulso, ou olhar para as núvens, ficar nas pontas dos pés, etc. Esse exercício deve ser feito sempre em momentos determinados do dia, tais como uma certa hora (não é preciso ser exato ao minuto), logo ao acordar, antes de uma refeição, ao abrir a porta de casa, etc.
- Serenidade nos sentimentos (eqüanimidade). É importante para a meditação posterior que a alma adquira serenidade, tornando-se soberana em relação ao prazer e à dor. Não se trata de não se sentir sentimentos profundos, mas sim que eles não nos coloquem fora de controle. Steiner denomina a isso "domínio da expressão do sentimento". Isto é, devemos ter sentimentos, mas não deixar que eles nos "tenham". Exemplos de perda de controle são entrar-se em desespero, chorando copiosamente, ou ficar fora de si de alegria. Mas também é importante evitar sentimentos ligados à futilidade, raiva, etc. Trata-se de se conscientizar dos próprios sentimentos, devendo ser praticado sempre que tais manifestações possam ocorrer.
- Positividade. Trata-se de encontrar em qualquer situação o que é belo ou bom, no meio do que é mais feio ou maldoso. De fato, não há praticamente nada no mundo que seja 100% feio ou mau. Steiner chama a atenção para não se cair em falta de discernimento, confundindo o mau com o bom, e sim reconhecer que sempre há um lado bom em tudo, por menor que esse lado seja.
- Abertura (receptividade) e imparcialidade. Deve-se sempre estar aberto a todas as novidades, por mais absurdas que possam parecer. A atitude correta é dizer-se "parece estranho, mas vou investigar", eliminando-se preconceitos. Steiner diz que é possível sempre aprender-se algo de novo "de cada sopro de ar, de cada folha". Não se deve ignorar experiências passadas; por outro lado, deve-se sempre estar pronto a adquirir novas experiências.
- Harmonização. Os 5 exercícios anteriores devem ser praticados adicionando-se um a um paulatinamente; cada novo exercício deve ficar em destaque, sem que se abandonem os anteriores. Quando eles tornarem-se parte do dia-a-dia do praticante, deve-se procurar produzir um equilíbrio entre eles, a fim de que passem a fazer parte de nossa própria natureza.